sábado, 3 de dezembro de 2011

História Zé Pilintra












Jose Emerenciano nasceu em Pernambuco, filho de uma escrava forra com seu ex-dono, teve algumas oportunidades na vida.
Trabalhou em serviços de gabinete, mas não suportava a rotina.
Estudou, pouco, pois não tinha paciência para isso.
Gostava mesmo era de farra, bebida e mulheres, não uma ou duas, mas muitas. Houve uma época em que estava tão encrencado em sua cidade natal que teve que fugir e tentar novos ares.
Foi assim que Emerenciano surgiu na Cidade Maravilhosa.
Sempre fiel aos seus princípios, está claro que o lugar escolhido havia de ser a Lapa, reduto dos marginais e mulheres de vida fácil na época.
Em pouco tempo passou a viver do dinheiro arrecadado por suas "meninas", que apaixonadas pela bela estampa do negro, dividiam o pouco que ganhavam com o suor de seus corpos.
Não foram poucas as vezes que Emerenciano teve que enfrentar marginais em defesa daquelas que lhe davam o pão de cada dia.
E que defesa!
Era impiedoso com quem ousasse atravessar seu caminho.
Carregava sempre consigo um punhal de cabo de osso, que dizia ser seu amuleto, e com ele rasgara muita carne de bandido atrevido, como gostava de dizer entre gargalhadas, quando nas mesas dos botecos de sua preferência.
Bebia muito, adorava o álcool, desde a cachaça mais humilde até o isque mais requintado.
E em diversas ocasiões suas meninas o arrastaram praticamente inconsciente para o quarto de uma delas.
Contudo, era feliz, ou dizia que era, o que dá quase no mesmo.
Até que conheceu Amparo, mulher do sargento Savério.
Era a visão mais linda que tivera em sua existência.
A bela loura de olhos claros, deixava-o em êxtase apenas por passar em sua frente.
Resolveu mudar de vida e partiu para a conquista da deusa loura, como costumava chama-la.
Parou de beber, em demasia, claro!
Não era homem também de ser afrouxado por ninguém, e uns golezinhos aqui e ali não faziam mal a ninguém.
Dispensou duas de suas meninas, precisava ficar com pelo menos uma, o dinheiro tinha que entrar, não é?
Julgava-se então o homem perfeito para a bela Amparo.
Começou então a cercar a mulher, que jamais lhe lançara um olhar.
Aos amigos dizia que ambos estavam apaixonados e já tinha tudo preparado para levá-la para Pernambuco, onde viveriam de amor.
Aos poucos a história foi correndo, apostas se fizeram, uns garantiam que Emerenciano, porreta como era, ia conseguir seu intento.
Outros duvidavam Amparo nunca demonstrara nenhuma intimidade por menor que fosse que justificasse a fanfarronice do homem.
O pior tinha que acontecer, cedo ou tarde.
O Sargento foi informado pela mulher da insistente pressão a que estava submetida.
Disposto a defender a honra da esposa marcou um encontro com o rival.
Emerenciano ria, enquanto dizia aos amigos:
- É claro que vou, ele quer me dar a mulher? Eu aceito! Vou aqui com meu amigo...
- E mostrava seu punhal para quem quisesse ver.
Na noite marcada vestiu-se com seu melhor terno e dirigiu-se ao botequim onde aconteceria a conversa.
Pediu uísque, não era noite para cachaça, e começou a bebericar mansamente.
Confiava em seu taco e muito mais em seu punhal.
Se fosse briga o que ele queria, ia ter.
Ao esvaziar o copo ouviu um grito atrás de si:
- Safado!
- Levantou-se rapidamente e virou-se para o chamado.
O tiro foi certeiro.
O rosto de Emerenciano foi destroçado e seu corpo caiu num baque surdo.
Recebido no astral por espíritos em missão evolutiva, logo se mostrou arrependido de seus atos e tomou seu lugar junto a falange de Zé Pelintra.
Com a história tão parecida com a do mestre em questão, outra linha não lhe seria adequada.
Hoje, trabalhador nos terreiros na qualidade de Zé Pelintra do Cabo, diverte e orienta com firmeza a quem o procura.
Não perdeu, porém a picardia dos tempos de José Emerenciano.
Sarava Seu Zé Pelintra!

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